Neste texto, vamos explorar o que é a ansiedade, como ela afeta o corpo e a mente, e como ela se manifesta em nosso dia a dia. Vamos também falar sobre os momentos em que a ansiedade deixa de ser uma resposta natural e se torna um problema, prejudicando a saúde mental e a qualidade de vida. Se você já se sentiu perdido em meio aos sintomas ou se perguntou como identificar a ansiedade em si mesmo, continue lendo. O objetivo aqui é entender melhor esse processo, buscando soluções que ajudem a recuperar o equilíbrio.

Será que eu tenho ansiedade? Ou será que estou chamando uma vida inteira de ansiedade?

Às vezes, pode ser só isso mesmo: a gente chamando de “ansiedade” um monte de coisas que foram se acumulando. Mas, afinal, o que é essa tal ansiedade? Vou tentar fazer aqui um percurso que mistura teoria, experiências de consultório, vivências pessoais e aquilo que a gente ouve por aí — porque tudo isso conta quando falamos de saúde mental.

Mas o que é ansiedade, afinal?

Ansiedade é uma forma de funcionamento do nosso corpo. Nascemos com ela. É quase uma configuração de fábrica: um sistema de alerta, de antecipação, que nos ajuda a sobreviver. Ela se torna um diagnóstico quando ganha contorno dentro dos manuais da psiquiatria — como o DSM ou o CID. Esses manuais nasceram como tentativas de nomear e organizar diferentes tipos de sofrimento psíquico, oferecendo categorias que ajudam a mapear experiências humanas muito diversas. São referências importantes na medicina, na psiquiatria, na psicologia e, em certa medida, também na psicanálise.

Mas é importante lembrar: ter ansiedade não significa, necessariamente, ter um transtorno de ansiedade.

Então… eu tenho ansiedade?

A resposta direta é: sim, você tem. Eu também tenho. Todo mundo tem. E não é porque todo mundo está doente. A questão é quando e como essa ansiedade aparece. E, principalmente, quando ela começa a ocupar espaço demais.

Quando a ansiedade vira um problema?

Geralmente, quando ela começa a atrapalhar a rotina: o sono, a alimentação, o trabalho, os relacionamentos. É quando você começa a digitar no Google:

• “quais os sintomas da ansiedade?”
• “psicóloga que trata ansiedade”
• “preciso de psicóloga para ansiedade?”
• “será que estou tendo uma crise de ansiedade?”

E aí vem mais ansiedade. Porque o que aparece nas buscas é um monte de resposta genérica, que mais assusta do que ajuda. Por isso, te convido a ir devagar. Tenha paciência com você. Pega na minha mão — vamos tentar entender junto o que está por trás desse desconforto.

Vamos por um caminho simples, mas necessário. A ansiedade é algo que habita em nós como um mecanismo de sobrevivência. Um estado de alerta que nos coloca em prontidão diante de um perigo. Se voltarmos no tempo — quando humanos viviam cercados por ambientes hostis, animais selvagens e ameaças reais à vida — faz sentido que tenhamos desenvolvido essa ferramenta. Reconhecer o risco era vital. Reagir a ele, mais ainda.

E como o corpo responde?

Os sintomas físicos da ansiedade nem sempre são sinal de algo errado com o corpo — muitas vezes, são formas de proteção. A ansiedade é uma resposta natural do nosso organismo a situações percebidas como ameaça, mesmo quando essa ameaça não é real ou imediata. O coração acelera para enviar mais sangue aos músculos e ao cérebro; a respiração fica curta para aumentar a oxigenação; os músculos se tensionam, preparando o corpo para reagir. O suor ajuda a regular a temperatura, os tremores indicam um excesso de energia acumulada, e a boca seca aparece porque o corpo desativa funções que não são urgentes, como a digestão. Náuseas, desconforto abdominal e formigamentos também fazem parte dessa mobilização fisiológica. A vontade frequente de urinar é uma tentativa de se “esvaziar” para facilitar a fuga, e os calafrios ou ondas de calor refletem a ação do sistema nervoso autônomo. Em algumas pessoas, a ansiedade pode provocar tonturas, insônia ou sono leve — como se o corpo estivesse de guarda — e, com o tempo, esse estado prolongado de alerta leva à fadiga. Em outras palavras, o corpo está tentando proteger você. Só que, às vezes, essa proteção começa a pesar.

É quando a ansiedade começa a aparecer no lugar e na hora errada.

É nesse momento que ela se torna um problema. Porque passamos a entrar em estado de alerta… mas a ameaça nem sempre está clara. E aí, vem a pergunta que Freud nos ajuda a elaborar: a ansiedade surge diante de ameaças externas ou internas? O que você tem sentido como risco vem de fora — ou de dentro? Não é uma resposta simples de se ter.

Hoje, a nossa forma de nos organizar na vida, uma vida e rotina cercada de deveres, afinal o ideal é trabalhar enquanto eles dormem, não? Mas quem tá dormindo? (E vamos deixar essa crítica à lógica do capitalismo para outro texto). Podemos dizer que a forma como nos organizamos e como somos organizados na vida vem nos adoecendo, em desacordo com a nossa condição humana. Isso coloca nossas ferramentas mais primitivas e primordiais contra nós. E se ninguém está falando sobre isso, vamos ter que falar aqui: a lógica de constante produção e cobrança por performance está nos adoecendo e nos matando. Será que o erro está mesmo em você (em nós)? Porque é muita gente errada para um único sistema de produção estar certo.

Como lidar com isso?

Pensar em formas de lidar com esse sofrimento que parece tão solitário, mas ao mesmo tempo coletivo, e que carece de palavras para ser explicado. Aliás, às vezes, só quem já passou por uma crise de ansiedade consegue entender a gravidade dela.

Saber que, apesar de ser um sofrimento solitário, você não precisa lidar com tudo sozinho. Buscar ajuda de um profissional e traçar estratégias para lidar da melhor maneira possível é um caminho seguro. Mesmo que a decisão de iniciar o processo de busca por ajuda não seja fácil, lembre-se de que o problema não está em você, e sim na tentativa de fazer tudo o que é possível para dar conta de tudo. A ansiedade aparece como uma tentativa de autopreservação.

Psicóloga Tamara Levy 

Especializada em Psicanálise CRP 01/20823 

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