Quem abusa?
Na maioria das vezes, quando temos notícia de que uma pessoa cometeu um ato de violência contra alguém, somos levados a desumanizar o agressor, tratando-o como um monstro, totalmente desprovido de características humanas e sociais. No entanto, na grande maioria dos casos de violência, ao examinarmos a relação entre vítima e agressor, nos surpreendemos com a proximidade e familiaridade entre eles.
Convido você a refletir sobre essa construção, por mais incômoda que possa ser. Os abusos, em sua grande maioria, são praticados por pessoas do círculo familiar da vítima ou por amigos próximos. Frequentemente, são indivíduos que ocupam um lugar de autoridade voltado ao cuidado, muitas vezes com uma diferença de idade, uma relação amorosa (namoro, casamento), parentesco ou uma posição hierárquica superior em alguma organização institucional (trabalho, igreja, escola etc.). E, na maioria das vezes, essa violência é praticada por um homem (para se aprofundar nessa discussão, sugiro a leitura deste texto).
Seguindo essa linha de raciocínio, é importante compreender como pode ser doloroso e difícil para a vítima identificar que está sofrendo violência de uma pessoa que deveria estar cuidando dela e que, dependendo da relação, ainda afirma que a ama. Esse é um ponto crucial na dificuldade de reconhecer uma situação de violência e está relacionado à subnotificação dos casos.
A perplexidade ao descobrirmos que uma pessoa dotada de todas as características de humanidade e civilidade pode ser um abusador é um desafio profundo. Não podemos desumanizar agressores nem julgá-los como doentes, pois isso pode levar à desresponsabilização das masculinidades que perpetuam práticas violentas em nossas relações diárias.
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Disque 180
Tamara Levy
CRP 01/20823
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